sexta-feira, dezembro 09, 2005

Longas Narrações: Oral Intenso

O meu primeiro exame universitario, pela via da oralidade, não poderia ter sido mais hilariante.
Avisados que ás 8.30 os examinadores estariam a entrar na sala para começar o dito cujo e visto que vivo no bosque de Brno estive na noite anterior a trabalhar num plano, meticuloso, para que nada falhasse e conseguisse chegar a horas.

Acordo ás 5 da madrugada.

Dou uma vista de olhos em dois ou tres ossos que ainda durante o sono palpitavam-me na cabeça e mais uma vista de olhos pelo cranio.

7.30 toca a campainha.

Era o homem da Cesky Telecom, responsavel por nos arranjar internet que à dois meses andava a ser trabalhada por telefonemas frenéticos e consecutivos á empresa.
Este homem, alto e farfalhudo, entrou por nossa casa a balbuciar o seu checo das beiras-altas, incompreensivel! Tentou dialogar connosco, ate perder a paciencia nas explicaçoes e começar a cortar os 2 outros telefones que tinhamos em casa para criar uma linha unica.

Pondo de parte os pormenores irrelevantes e aborrecidos.

Depois de comer o meu pequeno-almoço nas calmas, ás 8 horas decido chamar um taxi.
Atenção! Aqui é o ponto de viragem. Começa a adrenalina a disparar...
Do outro lado da linha oiço a senhora da rede taxis a repetir no seu, ainda bocejo matinal: " nemame taxis", o que significa: meu caro amigo, não há taxis, portanto páre de chatear-me e ponha-se a andar.
Desliguei. Abri a boca e soltei um grito de sofrimento, sem som.
Andei ás voltas em casa a tecer pragas á rede fugareira até que senti vibracoes na minha massa cinzenta e decidi pedir ao Sr. Farfalhudo para me levar ao centro. Com dificuldades, mais uma vez linguisticas, consegui a boleia.
Cheguei ao centro numa carrinha de 8 lugares, amarela forte das telecomunicoes checas.
Neste ponto, já um pouco atrasado, o meu cérebro decide ajudar-me e lembra-me que me esqueci em casa da bata branca, peça de vestuario obrigatoria para fazer exame.
Pois bem, decido correr 3 fármacias as 8.25 á procura de uma.
A sorte jogava ás escondidas comigo e teimava em não aparecer. Sem bata, e após andar 10m á procura de um taxi no centro, chego as 8.40 á sala de exame. Mal ponho o pé na entrada, soa o meu nome da boca do regente da cadeira. Á pressa, visto a bata de um colega ingles que ja tinha acabado o seu exame. Com a sobracelha a tremer e com espamos em todo
o corpo sentei-me á frente do Doutor Libor Pas (que poderá ser traduzido como: Dr. Liborio Paz ou Liborinho Paz).
Apos uma conversa animada, ou melhor, um monologo seco sobre a esfenoide, temporal e articulacoes da mao, arranquei um olhar do Liborio, que ate então olhava, reticente, para a folha que tinha em frente.
Minutos depois soaram palavras de consentimento e aprovação da sua boca.
Com o pingo na testa, consegui sorrir naquela manhã.